Em reta final da negociação para renovar a concessão da Ferrovia Centro-Atlântica (FCA), a VLI deverá fazer um investimento de R$ 600 milhões para começar a operar trens na Estrada de Ferro Vitória-Minas (EFVM), da Vale, como agente transportador ferroviário – modalidade criada pela nova lei das ferrovias para que operadores atuem na concessão de terceiros.

A empresa já transportava carga pela ferrovia da Vale, pagando à mineradora um valor pelo chamado “direito de passagem”. A diferença é que agora a própria VLI vai transportar a carga, o que significa que a empresa poderá coletar e entregar carga ao longo da EFVM, criar instalações na linha e ter mais controle sobre a carga no trajeto, que se conecta à malha da FCA. A mudança deverá simplificar o modelo de pagamento à Vale e ampliar a eficiência, segundo Fábio Marchiori, presidente do grupo.

Quando o sistema estiver 100% implementado, a VLI deverá ter 22 pares de trens (ida e volta) por dia na ferrovia e assumirá a gestão de 17 pátios de manobra.

Do investimento total, R$ 530 milhões serão destinados à compra de locomotivas e vagões. Outros R$ 70 milhões serão aplicados em instalações na malha. Marchiori diz que hoje não há previsão de terminais, mas já será construída uma oficina de reparos.

“Já operamos dentro da Vitória-Minas 22 milhões de toneladas anuais. Nos próximos cinco a sete anos, devemos subir para 30 milhões, não só pelo acordo. Esse corredor conversa muito com o Espírito Santo, que vai ser beneficiado. É um corredor muito importante.”

Na nova operação, a siderurgia deverá ser o setor mais atendido. “Há muita coleta e entrega de material siderúrgico, coque, carvão e minério de ferro”, diz. Cargas como celulose, grãos e fertilizantes também deverão ser beneficiadas.

A VLI já assumiu oito pátios de manobras e iniciou as contratações e treinamentos dos funcionários da operação. Os maquinistas do grupo deverão entrar na via a partir de novembro, e haverá um período de transição de cerca de oito meses, até meados de 2026.

A empresa também está habilitada a atuar como agente transportador ferroviário de cargas em outras malhas do país, caso haja acordo com as concessionárias. “Não somos mais apenas detentores de concessão, somos agentes operadores”, diz o presidente. Porém, ele afirma que, no momento, não há conversas em curso.

A Vale é acionista da VLI com 29,6% de participação. O maior sócio é a Brookfield, com 36,5%. Os demais são FI-FGTS (15,9%), Mitsui (10%) e BNDESPar (8%).

A nova operação se dá em meio a negociações duras com o governo para renovar por 30 anos, a concessão da FCA, em troca de R$ 30 bilhões em investimentos e pagamento de outorga. Nos últimos dias, a VLI entregou nova proposta de acordo ao Ministério dos Transportes, que irá analisar os termos.

Segundo fontes, ainda não há decisão sobre o tema, mas as conversas caminham bem. Recentemente, o secretário-executivo do ministério, George Santoro, disse que acredita que, até o início de agosto, haverá uma definição.

A VLI tem ainda planos de expansão de sua infraestrutura portuária, tanto em Santos quanto no Arco Norte, principalmente no Maranhão, segundo Marchiori. “Queremos fazer [os investimentos] em cocriação com clientes.”

O presidente diz que a situação financeira é confortável para os investimentos. Em maio, a VLI captou R$ 1,5 bilhão. O grupo tem alavancagem financeira de 1,5 vez a dívida líquida pelo Ebitda (lucro antes juros, impostos, depreciação e amortização), com autorização do conselho para chegar a 3 vezes.


FONTE: Revista Ferroviária