Focar na segurança energética e alimentar é cada vez mais fundamental para enfrentarmos as crises sanitárias, geopolíticas e econômicas

Todos os países que se apressaram a fazer a transição energética, aumentando de forma açodada a participação das fontes renováveis intermitentes, hoje convivem com as mais altas contas de eletricidade do planeta. Além de ficarem reféns do clima em tempos de mudanças climáticas.

Sem preocupação com a segurança energética, descarbonizar e eletrificar o mundo ficará cada vez mais caro, e os principais prejudicados serão os países menos desenvolvidos. A segurança energética, o acesso à energia e a acessibilidade energética do ponto de vista da população mais carente precisam caminhar juntos. Caso contrário, negaremos aos países mais pobres as oportunidades de alcançar o desenvolvimento socioeconômico básico.

E o que a segurança energética tem a ver com a segurança alimentar? Hoje, para produzir alimentos, três coisas são essenciais: água (irrigação), energia (pivôs centrais e máquinas agrícolas) e fertilizantes (que precisam de fontes despacháveis de energia – gás natural – para serem produzidos). Se tivermos um regime hidrológico ruim, iremos comprometer o nível e a recuperação dos reservatórios (incluindo os subterrâneos, os aquíferos). Isso tornará o preço da energia mais alto, acarretando o que chamamos de inflação energética.

E mais ainda, se não tivermos fontes despacháveis como o gás natural para garantir a segurança do suprimento, esse preço torna mais cara a produção de fertilizantes e, consequentemente, a produção de alimentos. Com inflação de eletricidade e combustíveis – que representam parcela significativa da renda – e a consequente inflação na produção de alimentos, provocamos queda no crescimento econômico que leva a um efeito ruim no bem-estar social.

Por: Adriano Pires (Diretor e fundador do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE)

Fonte: Estadão